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sábado, 22 de agosto de 2020

MATEUS ALELUIA


MATEUS ALELUIA: PATRIMÔNIO DA MÚSICA AFROBRASILEIRA E CANTADOR CONSOLADOR DE CORAÇÕES

 Uma das minhas descobertas musicais mais emocionantes deste ano, até agora, sem dúvida foi Mateus Aleluia. Ele não é novo no cenário musical, mas eu não tinha conhecimento nenhum sobre ele até outro dia.

Mateus Aleluia tem 76 anos, é um cantor e compositor brasileiro, baiano, negro. Foi um dos membros do trio baiano “Os Tincoãs” — que, por sinal, eu também não conhecia.

Os Tincoãs era uma banda que exaltava a musicalidade, as religiões de matriz afro, os cantos, as poesias… A ancestralidade. Mateus Aleluia continua nesse mesmo caminho. De 1983 a 2002 o cantor morou em Angola, realizando pesquisa. Esse caminho me lembra o de muitas referências que também decidiram ir a alguns cantos da África para se reconhecerem: Nina Simone, Maya Angelou, Malcom X, Emicida… Mateus Aleluia.

Foi só depois de retornar ao Brasil que Mateus gravou seu primeiro álbum solo, em 2010, chamado Cinco Sentidos. O álbum mostrou que toda a relação íntima e viva das suas crenças e a musicalidade originada delas, continuava viva. E continua.

Em 2017, Mateus Aleluia lançou “Fogueira Doce”. E foi com a música que dá nome ao álbum, que eu conheci o Mateus. De imediato me apaixonei pela melodia e pela voz calma. O refrão me tomou:

Quando eu vim pra esse mundo

Eu mostrei minha cara

Sem marcar bobeira

Cantei o meu canto

E fiquei por cá

Quando eu escuto Mateus Aleluia, realmente me sinto ninada, parece que estou ouvindo um pai. Inclusive, lembro muito do meu pai, que, das poucas lembranças infantis que tenho, a mais viva é a dele deitado comigo na rede, cantando pra eu dormir, todos os dias. Era a minha parte favorita do dia todo.

Ontem, dia dos namorados, acordei bem, estava pensativa sobre isso tudo, sobre a solidão, sobre relacionamentos, sem tristeza, mas com muita reflexão. Coloquei minha playlist pra tocar, no aleatório, e uma das primeiras músicas que tocou foi “Filha Diga o Que Vê”, do Mateus.

A música é um mantra, é uma conversa entre um pai, ou amigo, um cuidador, e uma mulher, uma filha, e, depois, uma mãe, que aparece trazendo boas novas.

- Filha, diga o que vê

- Vejo e sinto Iemanjá, trazendo uma doce esperança no olhar, brisa boa se sente no ar

Ouvi essa mesma música várias vezes e fui conversar com a Larissa, minha amiga, sobre as tatuagens que faríamos. Ela estava falando pra mim sobre a ideia dela: queria uma saudação ao feminino, de preferência uma orixá. E, na mesma hora, me veio à mente a doce música que eu tinha acabado de ouvir… Mandei para ela, que tem uma sensibilidade de outro mundo. Lari me respondeu que estava precisando segurar as lágrimas.

Foi incrível perceber como a música nos tocou. Como realmente parecia que Iemanjá tinha chegado até a nós e dito: “Calma, tem uma coisa boa vindo!”. Era incrível perceber como a musicalidade e a voz de Mateus Aleluia conseguiam mergulhar tão profundamente na gente.

E então, percebi, que não era só a questão da letra, que não era também (mas também não deixa de ser) a questão da religião, até porque eu não sou de religião de matriz africana, nem minha amiga (o que, inclusive, a fez repensar sobre a tatuagem)… Há algo na musicalidade de Mateus Aleluia que toca na gente, nas raízes — porque são nossas raízes.

Somos maranhenses, um dos estados brasileiros com maior população negra do Brasil. Somente em 2018, aqui, o Dia da Consciência Negra foi declarado de fato um feriado, porque parece que só agora estamos nos dando conta da grande quantidade da influência da cultura negra em praticamente tudo o que temos de valioso: os sotaques dos bois, o tambor de crioula, as comidas… A gente.

Recentemente, Mateus Aleluia deu uma entrevista ao programa Conversa com Bial, nela, ele diz que até setembro deste ano um novo disco sai, reafirma o estilo, informando que o disco segue a mesma linha do trabalho começado pelos Tincoãs na década de 70 (quando de fato começaram a cantar suas crenças) e também diz explica que mesmo os membros que não fossem do candomblé, foram ninados e formados dentro:

[…] das células rítmicas e melódicas do candomblé. O que nos levou também a afirmar que mesmo quem não pertence ao culto do candomblé, culturalmente, tem o candomblé dentro”

Minha cabeça explodiu! É isso, é essa a explicação: a nossa formação musical, a formação musical do maranhense, do brasileiro, tem essas células. E, por isso, talvez, mesmo quem não está ligado às religiões afro, sente o coração palpitar com a batida do tambor de crioula, tem a pele arrepiada quando cantam as músicas dos blocos afros, que hipnotiza nosso olhar com suas coreografias de movimentos duros, precisos, leves e fortes.

A música afrobrasileira é a nossa ligação mais forte com isso tudo. Com a natureza, tão bem representada nos cantos, nas divindades.

Podemos ser ignorantes quanto aos saberes das religiões de matriz afro, podemos desconhecer nossas raízes, mas é impossível negar a beleza delas, não temos como negar a força que elas têm, sobrevivendo durante todos esses séculos e devemos, minimamente, reconhecer as influências maravilhosas que herdamos e ouvimos por vozes como a de Mateus, um patrimônio. Respeitar. Como o próprio Mateus disse: é a “semântica da vida”.

“Antes de tudo, houve a música. O verbo só veio com o homem. Antes do mundo ser criado, tudo isso era uma grande sinfonia: os mares, os rios, os ventos, as chamas. O vento soprando é música. Só depois apareceu o homem, viu essa beleza toda e teve necessidade de dizer pro outro como ele estava se sentindo. Aí é que veio o verbo.”

FONTE: https://medium.com/ainda-escuto-%C3%A1lbuns/mateus-aleluia-patrim%C3%B4nio-da-m%C3%BAsica-afrobrasileira-e-cantador-consolador-de-cora%C3%A7%C3%B5es-835c2066dd40

 

Um comentário:

  1. Esse cara é simplesmente maravilhoso! Como é possível que não se lho escute nas mass media?

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