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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

MAYRA ANDRADE

Mayra Andrade é lovely – adorável, generosa e radiante. A sua voz baseada nas suas raízes, distinta, poética e tropical, foi imediatamente descrita há uns anos atrás como reflectindo “outro Cabo Verde” – a sonoridade de uma Cesária Évora, libertada das voltas do destino e da insígnia da tradição.

Com o lançamento agendado para breve, Lovely Difficult é o quarto álbum desta cantora de 28 anos, que afirma que a sua vida e objectivos não são tão simples como se poderia pensar. Não se trata de uma artista neo-tradicional. Pode ser adorável mas é também firme, arrojada e determinada. Adorável, mas um espírito livre tanto na sua música como na sua vida. O título do álbum, Lovely Difficult, é a alcunha que o seu parceiro em tempos lhe deu.

A voz de Mayra é uma mistura de tons radiantes, dançantes, batidas aveludadas e melodias apimentadas. A sua voz está subtilmente “temperada” com pimento, como se a Europa da pop sempre tivesse sido um arquipélago tropical. As canções invocam um verão eterno que dispersa névoas e arrepios, mas que nunca recorre ao brilho facil do exotismo. Cantadas em crioulo cabo-verdiano, inglês, francês e português, as canções transportam-nos na sua imprevisibilidade quente e aventureira.

A sonoridade pop de Mayra abrange o mundo inteiro, desde o romantismo ocidental até à sensualidade do sul, vai de um reggae europeu a uma África em três compassos. Trata-se de uma pop tropical e viajada. O seu objectivo consistia simplesmente em fazer música que reflectisse a sua vida.

O seu destino é romanesco. O seu pai foi combatente na luta pela independência de Cabo-Verde, uma luta apoiada por Cuba. Como havia receio pela saúde da mãe durante a gravidez, a mesma partiu para ter a sua filha num “país irmão”. Como tal, Mayra nasceu em Havana e adquiriu a nacionalidade cubana. A cantora passou o início da sua infância na cidade da Praia, em Cabo Verde. Depois, aos 6 anos de idade, viajou com a sua mãe e o seu padrasto que era diplomata, para o Senegal, Angola e Alemanha. Quando regressou a Cabo Verde aos 14 anos de idade, começou a cantar e ganhou uma medalha de outro no concurso dos Jogos da Francofonia em 2001, em Otava.

Cesária Évora tornou mundialmente famoso o país (“Cabo Verde – não é um cabo e não é verde”, como descreveu maravilhosamente Véronique Mortaigne do jornal Le Monde) e as batidas mulatas da ilha de São Vicente: a morna e a coladeira. Mayra Andrade é da ilha de Santiago, onde os estilos musicais têm mais percussão e são mais ritmados e africanos – o funaná e o batuque eram mal vistos pela elite colonial e, como tal, nunca foram exportados. Mayra é apaixonada por estes ritmos.

A sua primeira decisão como cantora foi o facto de adiar a gravação. Actuou muito em palco mas permanecia afastada do estúdio. Certo dia, disse algo a Orlando Pantera, o artista mais inovador e independente do arquipélago na altura:
“Não sei o que fazer com a minha música. Gostaria de fazer algo diferente.”
“Então, minha querida, pára de procurar, tens a resposta contigo. Faz algo de diferente!”
A cantora permaneceu determinada em conquistar essa diferença, mas acabou por perder Pantera, que adoeceu e faleceu aos 33 anos de idade no momento em ele ia gravar o seu primeiro disco.

Em 2006, a cantora finalmente lançou o seu primeiro álbum – intitulado Navega, uma produção marcada pelas suas raízes e gravada acusticamente a um ritmo de três canções por dia. A cantora descreve o seu segundo disco, Stória, Stória…, como “um álbum de princesa”. Foi gravado em Paris, Brasil e Cuba, e andou em digressão com uma equipa de oito pessoas para apresentar as suas músicas. Em seguida, gravou com um trio os concertos para a rádio FIP. A gravação serviu de base ao álbum seguinte, Studio 105. “Depois dessa altura, decidi que queria fazer um álbum mais pop.”

A cantora admite claramente que Lovely Difficult é um paradoxo. “Trata-se de um álbum mais diversificado e pessoal. Sou uma mulher do meu tempo, afectada por inúmeras influências. Nunca compus ou cantei em tantos idiomas.”

Sim, Mayra Andrade fala e compõe “em quatro idiomas e meio”: crioulo cabo-verdiano, português, espanhol, francês e inglês (o tal meio). Pertence a uma geração fortemente ligada à sua identidade cabo-verdiana. Agora, chegou a altura de alargar os horizontes. Existem duas vezes mais cidadãos cabo-verdianos no estrangeiro do que no país de origem. Esta diáspora torna a pequena nação numa das mais cultural e intelectualmente dinâmicas em África. “Mas sinto que Cabo -Verde ainda tem resistências quanto à abertura da música tradicional à modernidade. Somos um pouco como o Brasil na era do samba e da bossa nova.”

Mayra quis que o álbum fosse revolucionário mas simultaneamente acessível, pop e arrojado, eclético e pessoal. A cantora admite: “não gosto de discos que parecem uma salada russa. Seria uma humilhação fazer um disco que soasse a uma compilação de idiomas e de estilos.”

Lovely Difficult é exactamente o oposto: é a demonstração de uma liberdade e de uma individualidade que nada ligam aos limites estilísticos e linguísticos. Desta vez, a cantora colaborou com artistas de origens muito distintas: Yael Naïm e David Donatien, Piers Faccini, Tété, Benjamin Biolay, Hugh Coltman, Krystle Warren, Pascal Danäe, Mario Lucio Sousa, entre outros. Cada um destes temas fala sobre o amor – “à excepção de Rosa, que fala de solidão.”

Mike “Prince Fatty” Pelanconi (que trabalhou com nomes como Lily Allen, Graham Coxon, etc.) produziu o álbum em Brighton e juntos conseguiram alcançar um prodigioso equilíbrio tendo que ele nunca tinha gravado um disco de world music e a cantora nunca tinha cantado música pop. Segundo a Mayra “foi o encontro de dois “iletrados” com grande sensibilidade que tinham apenas as suas antenas e os seus instintos para se guiar.”

A cantora gosta de pensar que o seu álbum transmite o mesmo sentido de aventura que se pode encontrar na obra de Caetano Veloso. “Porque não permitir o crescimento, a mudança e o movimento? Porque não deixar o público habituado a esperar o inesperado?” Sim, totalmente lovely e honestamente difficult.



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