Mestre Vieira só ganhou
notoriedade fora do Maranhão quando teve uma deliciosa canção gravada pela
conterrânea Rita Ribeiro em seu álbum de estreia, de 1997. A graça, a
sensualidade e o magnetismo de Cocada
a fizeram um clássico de seu repertório. Outras faixas seguiam na mesma linha, Tem Quem Queira e Banho Cheiroso, esta incluída por Rita em seu segundo CD, “Pérolas
aos Povos”.
E pérolas nunca faltaram no
cancioneiro de Vieira, um sambista que teve discos lançados de forma
independente. Rita e o também maranhense Zeca Baleiro foram os grandes
responsáveis por promover a música de mestre Vieira, também conhecido como o
Cartola do Maranhão. Zeca produziu o álbum O Samba É Bom, gravado ao vivo num
teatro de São Luís, com honras de gala, quando Vieira fez 80 anos, em 2001.
Sivuca, Elza Soares entraram como convidados, além de Rita e Zeca.
Em 2004, Vieira participou de
um projeto de samba no Sesc Vila Mariana, dividindo o palco com outro veterano,
o baiano Riachão. Na ocasião, o Estado reuniu os dois para um bate-papo sobre
música, sobre sua trajetória e outros assuntos. Sempre sereno, Vieira fez
comentários do tipo: "O pobre quer ser rico, o rico quer ser nobre, o
nobre quer ser artista, o artista quer ser Deus. Depois de Deus, só pode ser
artista."
Criado por uma família
tradicional, Vieira mostrou-se na entrevista um homem reservado, comedido, o
oposto do fogueteiro Riachão. Sua formação musical começou com Chopin, depois
vieram os grandes cantores brasileiros. Sereno, mas provocador, Vieira fez
críticas que os polianas da MPB atual não ousariam: "Na minha época não
tínhamos esse aparato tecnológico de hoje. Mas, pelo menos na minha terra, noto
que os antigos tinham mais talento que os novos", desafiou.
"Uma vez ouvi Djavan
cantando Correnteza e minha sobrinha me disse que a música era dele. Não podia
ser, ele não tem qualidade musical para fazer uma coisa dessas. Fui pesquisar e
descobri que era de Tom Jobim e Luiz Bonfá." E recomendou que os jovens
cantores pegassem a discoteca antiga e fossem analisar Donga, Pixinguinha, Noel
Rosa, Assis Valente, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Vadico. "Aí iriam ver
que estão longe dessa gente." Mestre Vieira sabia o que era bom e dava
aulas de cultura maranhense. Deixou mais de 300 canções. Seu legado merece ser
amplamente explorado.
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