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sábado, 9 de março de 2013

GALVÃO FILHO

A Música Potiguar é Brasileira. O conceito regionalista empregado à produção musical norte-rio-grandense é banhado de discriminação. Não se ouve classificações limitantes em composições do Sul Maravilha, mesmo características de guetos ou regiões, como o Samba ou a Bossa Nova. É música brasileira, como o maracatu pernambucano ou o côco de zambê potiguar. Como a voz de trovador e a melodia refinada de Galvão Filho.

É fácil identificar a brasilidade potiguar nas composições do caçula da família Galvão. O coração da alecrinense Avenida 10 ou as manifestações mais genuínas do folclore cascudiano estão impregnados em cada sílaba pronunciada ou verso tocado. Sem provincianismo. Apenas a "cantiga sagrada de um tempo bom", de uma alma sertaneja, como canta em seu quatro Cd Achados e perdidos. O lançamento será hoje, às 19h, na Capitania das Artes.

O novo trabalho de Galvão Filho sintetiza a carreira enrraizada desde cedo pela semente da nordestinidade. É mais do mesmo. E o mesmo é sempre novo; contemporâneo, como conceituam os modernos. A produção é mais refinada. As composições conservam o joio característico da música de Galvão Filho, mas se despem da linguagem pouco palatável dos folguedos e adentra a melodia mais pop. O resultado é primoroso.

O projeto gráfico inspirado na arte da marchetaria do mestre Ulisses Leopoldo e do filho Timba Galvão imprimem charme peculiar ao Cd. Chico Santeiro, da arte em madeira, também é lembrado, como também outros nomes da "memória social popular potiguar". Estão todos na letra de Reza, como outros chicos: o Traíra e o Antônio. Ainda Jorge Fernandes, Zé Menininho, Fabião das Queimadas, Severino Galvão, além de folguedos como o Araruna e a Boi de Reis.

No release promocional do Cd, o título Do Xote ao Maracatu talvez percorra um trajeto adjacente à verve das músicas. Achados e perdidos passeia por outros caminhos. Até pela formação da claque de músicos, como o contrabaixista Sergio Groove, a bateria de Di Stefano, os arranjos de Franklin Nogvaes e o violão de Babal. Verdade que a sanfona de Zé Hilton empresta algum for all. E o que dizer, então, do clarinete, rabeca e violoncelo de algumas canções? E do samba de A janela do sol poente, em parceria com Chico Morais?

A mescla de tudo é marca influente de Galvão Filho. Desde os amplificadores de Chico Baracho, na distante Avenida 10 das memórias infantis da família Galvão. "Tocava de tudo. E eu, pequeno, ouvia Luiz Gonzaga, João do Vale, Ari Barroso". E em casa, ouvia a instrumentação de cordas dos irmãos mais velhos. "Recebi um pandeiro. Se fosse um violão eu quebrava porque era muito pequeno. A percussão foi minha grande influência musical", atesta Galvão.

A família percurssiva levou Galvão Filho aos terreiros para aprofundar o conhecimento da instrumentação. "Sem condições de pedir outros instrumentos à minha mãe, visitava terreiros para aprender atabaque, ilu. Aprendi os macetes que só a prática ensina". A intimidade com as raízes da música empurraram Galvão às pesquisas dos ritmos genuínos da cultura local - universais em suas origens.

"Descobri, por exemplo, que o côco de zambê tocado aqui é diferente, com dois tambores (um grave e outro agudo, responsável pelo contracanto) e uma lata. O cabocolinho também é tocado de um jeito próprio aqui. Essa influência está presente desde o início, quando mestre Geraldo, do côco de zambê de Tibau do Sul, abre meu primeiro Cd Na palma da mão. E depois vieram Forró pra valer e Coco pra vadiar.

Galvão venceu o bombardeio do universo beat, beatle e hippie dos anos 60 e 70. Sua Jovem Guarda foi transfigurada no grupo O Bando de Natal, formada pelos músicos Enock Domingos (parceiro em quatro canções deste último álbum) e os irmãos Babal e João Galvão. A proposta do grupo foi repensar a música nordestina com visão modernista. O grupo atravessou incólume os anos 70 até bater a porta da nova década transviada pelo consumismo.

Dono hoje de um acervo de composições autorais das mais ricas do Rio Grande, Galvão coleciona shows ao lado de nomes expressivos da Música Popular Brasileira, como João do Vale, Marinês e sua Gente, Julinho do Acordeom, Xangai, Zeca Baleiro, Cascabulho e Zé Ramalho. Sua música A energia dos cristais está no repertório de Alcimar Monteiro. Mas bom mesmo são as do seus Cds; verdadeiros achados do do cancioneiro da Música Potiguar Brasileira.


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