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Playlist - Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Chico e Milton

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domingo, 22 de julho de 2012

1974 - Baiano e Os Novos Caetanos

TIRE ESTE ÁLBUM DA GAVETA:

O disco em questão foi lançado em 1974 para aproveitar o sucesso dos personagens Baiano e Paulinho, criados por Chico Anysio e representados, respectivamente, por ele e seu maior parceiro, o cantor, compositor, ator e também humorista Arnaud Rodrigues. O grupo Baiano & Os Novos Caetanos fazia engraçadas aparições no Chico City, um dos vários programas que Chico Anysio teve na grade de programação da TV Globo durante os anos 70. Ao que consta, a idéia dos personagens surgiu da revolta que a prisão e o exílio de Caetano e Gil causaram em todo o meio artístico - servia como sátira, sim (incluindo no meio os Novos Baianos, de Moraes Moreira e Luiz Galvão), mas era uma homenagem a dois artistas cuja prisão sequer pôde ser noticada decentemente nos jornais nacionais, devido à censura.

Atitudes como a da dupla Chico/Arnaud e a de outra dupla, Roberto e Erasmo (ao compor "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos" para Caetano) ajudavam a passar a mensagem por debaixo da porta - e versos como o do maior sucesso de Baiano & Os Novos Caetanos, já diziam tudo. "Vô batê pá tu", parceria de Arnaud Rodrigues e do samba-rockeiro Orlandivo, pegava pesado na questão da delação de artistas subversivos durante o período da ditadura ("vô batê pá tu/batê pá tú/pá tu batê/pá amanhã a pá não me dizê/que eu não bati pá tu/pá tu podê batê"), incluindo ainda um discurso bem próximo do som bandido de Bezerra da Silva ("deduração/um cara louco que dançou com tudo/entregação do dedo de veludo"). O som era um samba-rock nordestino, suingado. A música era ambientada como se fosse um quadro de Chico City, com palmas, risadas e até participação de outro personagem de Chico, Lingote, mais perdido que cego em tiroteio ("falôôôô, é isso aí, malandro... tem que se ligar aí nesse som... mas o que é que eu tô fazendo nesse disco, malandragem?").

O lado A de Baiano & Os Novos Caetanos era, em sua maioria, dominado por uma mistura de samba, rock, forró e lisergia, que faria a alegria de dez entre dez adeptos do mangue bit - estranhamente, ninguém se lembrou de gravar nenhuma música do álbum, e olha que boa parte delas daria ótimos samples. "Nêga", a segunda música, era aberta em ritmo de funk, com guitarra e metais - e logo virava um samba-rock cheio de efeitos vocais, cheio de guitarras com fuzz. Em "Cidadão da mata", composta por Chico e Arnaud, mais guitarras, samba, rock e nordeste, unidos a sons da mata e a pelo menos um verso cara-de-pau, lido por Chico: "Amo a mata, porque nela não há presos". Chico, que costumava imitar a voz e o sotaque dos irmãos Caetano e Bethânia na televisão, abre o forrock "Urubu tá com raiva do boi", recitando, em baianês: "o medo, a angústia, o sufoco, a neurose, a poluição, os juros, o fim, nada de novo... a gente de novo só tem os sete pecados industriais". Na letra, fome, injustiça social by Médici/Geisel, de ilusão, meio ambiente e censura, graças aos versos e às frases ditas por Chico entre um acorde e outro. Fechando, regionalismos em "Aldeia" e "Ciranda" (que cita nominalmente: "saudade de Caetano, de Gal, de Bethânia, de Gil").

O lado B do disco é repleto de regionalismos, em músicas como a sertaneja "Folia de Rei", o choro "Tributo ao regional" e nas letras de várias faixas. Mas as misturas continuam, no forró-soul (!) "Véio Zuza", coadjuvado pelo próprio personagem criado por Chico, no samba-rock "Selva de feras" (outra parceria de Arnaud e Orlandivo, lembrando o estilo deste último em músicas como "Guéri-Guéri"). "Dendalei", misturando ritmos nordestinos, sanfona e riffs de guitarra duas décadas antes dos Raimundos, pregava: "sou fâ do livre pensamento". Um discurso bem complicado para a época... mas provavelmente o humor e a Globo ajudaram a dissolver uma série de coisas que estavam explícitas no texto de Chico Anysio e Arnaud Rodrigues.

O sucesso do disco foi tão grande que os realizadores seriam convidados para shows no MIDEM, famosa feira de música realizada em Cannes, na França - convite este recusado por Arnaud e Chico, que preferiram uma turnê pelo Brasil. A dupla Baiano & Paulinho (e os Novos Caetanos) ainda apareceria em vários programas de humor e em outros lançamentos - em 1975, saía Baiano & Os Novos Caetanos 2, pela Som Livre, e nos anos 80 ainda sairiam outros discos. Arnaud, que hoje é mais conhecido do público por outra dupla (Xitãoró e Xorãozinho, que interpreta com Marcelo de Nóbrega no programa A praça é nossa) ainda brilharia em outro disco, Murituri, lançado em 1974, com mais rock, samba, nordestinidade e psicodelia de arrepiar os cabelos, em músicas como "Murituri" e "Nêga" (a mesma de Baiano &...). Chico também voltaria ao disco em registros ao vivo (Chico ao vivo, Som Livre, 1976) e a dupla ainda se reuniria para gravar o disco do personagem Painho - uma espécie de sátira aos pais-de-santo, que começariam a se tornar famosos na mídia durante a década de 80. No todo, um discurso cujo humor acabou proporcionando sua absorção pela mídia, pelo povo e até pelos então donos do poder. Só que, como ocorre também com vários outros artistas (de Ultraje a Rigor a Falcão e Rogério Skylab), há muito mais do que apenas bom humor ali. Sorte de quem entendeu.

Texto de Ricardo Schott, publicado no site discotecabasica.com.


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