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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

RAIMUNDO SODRÉ


Foi, o Samba-Chula, nos últimos tempos, descoberto em toda a sua beleza. Batido na palma de mão, ele ecoa poderoso em todos os recantos dessa nova velha Bahia. Um dos autênticos mestres dessa música apaixonante é Raimundo Sodré, um artista que traz a chula no sangue. Nascido no interior da Bahia, em 23 de julho de 1947, é filho de Anacleto Pereira Sodré, maquinista da Leste Brasileira, e de Laura Rosa Brandão, artesã de renda de bilro e crochê. Seu pai, da cidade de Santo Amaro da Purificação, sua mãe, de Mundo Novo.

Quando ficou grávida, atendendo ao convite de sua irmã mais velha, Isaura, sua mãe foi tê-lo em Ipirá, onde ela residia no distrito de Camisão, légua e meia do município. Tia Isaura foi uma pessoa muito especial na formação do menino. Mãe de santo, ela comandava um terreiro de Candomblé da nação Angola.

Com quatro anos de idade, foi com a mãe e a avó, morar na capital. Mas, voltava todo ano para passar as férias escolares na casa da tia. O ambiente era muito alegre, quando se festejava os Santos Reis, promovia-se uma comemoração que chegava a durar por vários dias. Era uma festa muito pitoresca, já que se apresentavam ao mesmo tempo grupos de samba chula e de forró. A casa era enorme, numa das salas o forró tomava conta, por conta das sanfonas de Roque Bananeira e de Isac Reis - este acompanharia Sodré no tempo dos festivais -, enquanto ao lado, no barracão do Candomblé, reinava a chula, comandada pelas violas de Raimundo do Pião, Teóphilo Preto, e pelo pandeiro de Dioclésio. Numa dessas férias em Ipirá, o menino Raimundo começou a tocar atabaque, iniciado pelo Ogã Augusto Carixá, do famoso terreiro do Bate Folhas, da Mata Escura, em Salvador.

Quando estava com a idade de 14 para 15 anos, uma propaganda de rádio, apresentada pelo irreverente cantor Juca Chaves, onde ele tocava um violão com um suingue irresistível, chamou a atenção do menino Sodré para o instrumento. Tempos depois, com um violão emprestado por um vizinho, seu Abel, começa a treinar os primeiros acordes, ensinados por sua mãe, Laura.

As primeiras músicas que tocou foram as chulas que ouvia em Ipirá, depois o samba-canção "Tudo de Mim", sucesso cantado por Altemar Dutra, cuja voz Sodré muito admirava. Sempre tocando e cantando, ele cumpriu os estudos básicos, até entrar no tradicional Colégio Central da Bahia, um dos centros da intelectualidade estudantil baiana nos complicados anos sessenta.
Querendo realizar a vontade de seu pai, que sonhava que o filho fosse médico, prestou exame vestibular e entrou para a faculdade de medicina, do Terreiro de Jesus, mas foi obrigado a abandonar o curso logo em seguida, por não ter condições de custear os estudos.

Em 1972, recém casado resolve mudar-se para São Paulo. Foi trabalhar como analista de crédito numa financeira. Lá, conheceu o radialista Antonio Celso, da rádio Excélsior, que ao saber que ele cantava o convidou para fazer um teste. Na oportunidade ele cantou algumas músicas de Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Gilberto Gil, e outros. Na ocasião, foi apresentado ao produtor Paulo Leivas, que o levou para a gravadora Continental, projetando o lançamento de um compacto simples onde ele cantaria duas músicas de Gonzagão: "Vou Casar Já" e "Onde Tu Vai Luiz?". Mas o disco terminou não saindo porque, logo depois, o produtor saiu da gravadora, que abandonou o projeto. Na Continental, Sodré conheceu Belchior, Odair Cabeça de Poeta, e o pessoal do grupo Capote.

Em 1974, dois anos depois de haver chegado à São Paulo, Sodré resolve voltar para a Bahia. Foi morar com o pai na cidade de Santo Amaro da Purificação, onde conhece Roberto Mendes e Jorge Portugal e entra para o Sangue e Raça, um grupo que misturava música e teatro.

Em 1975, é convidado pelo percussionista Djalma Correa para participar da montagem, tocando viola, do espetáculo "Sete Poemas Negros", do escritor Ildázio Tavares.

Em 1976, o Sangue e Raça participa de uma oficina de jazz no ICBA - Instituto Cultural Brasil Alemanha -, formulada pelo guitarrista alemão Volker Kriguel, tendo o trabalho do grupo se destacado, ganhando a admiração de Roland Schafiner, diretor da casa, que convidou o grupo para realizar um espetáculo, batizado "Reconsertão", o primeiro grande show do grupo. Calcado em elementos rítmicos e melódicos do recôncavo baiano e do sertão nordestino como a chula, emboladas, baiões, e xotes, o espetáculo teve grande repercussão, ensejando aos rapazes um novo convite de Schafiner para repetirem a temporada. Todo o sucesso em Salvador, motivou um convite do ICBA, para realizarem uma temporada, ao lado do grupo Baiafro, do percussionista Djalma Correa, por vários estados do nordeste levando o show "Sertafro". No mesmo ano, o grupo Sangue e Raça monta no pátio do ICBA o show "Viola, Repente e Canção", onde contracenam com artistas populares como os repentistas Bule-Bule, Zé Gonçalves, e Zé Pedreira.

Em 1978 o Sangue e Raça se junta ao grupo Teatro Livre da Bahia, do diretor João Augusto, para montar "Oxente Gente, Cordel", espetáculo premiado como o melhor do ano, pelo Serviço Nacional de Teatro. Fazendo apresentações em Brasília, em São Paulo, e no Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro, Sodré se desliga do grupo, permanecendo na capital carioca para fazer alguns shows. Os primeiros foram no teatro da Maison de France e, logo depois, uma serie de apresentações na Aliança Francesa, de Copacabana, da Tijuca, e de Botafogo, onde, sempre às quartas-feiras, permaneceu em cartaz por quase um ano.

No final desse mesmo ano, estréia na Sala Funarte em companhia da cantora Fátima Regina, um show com direção musical do maestro Antonio Adolfo. É, então, convidado por Miguel Chaves, assistente de produção de Roberto Menescal, para fazer um teste. Deixando registrado na gravadora Polygram algumas músicas, entre elas o "Recado Pro Pessoal Lá de casa", "Sonho Claro", ainda hoje inédita, "Vá Pra Casa Esse Menino, Viu?", e "A Massa".

Em junho de 1979, ele apresenta na Cocha Verde, no morro da Urca, ao lado da cantora Tânia Alves, o show "Raimundo Sodré e Tânia Alves". Logo depois, a grande notícia: "A Massa", havia sido escolhida pelos produtores da Polygram para participar do festival MPB 80. Realizado pela Rede Globo de Televisão. Assim, nos primeiros dias do mês de setembro, Sodré assina um contrato para a realização de três discos com a gravadora, e entra no estúdio para preparar as músicas de seu futuro primeiro LP.

Em abril de 1980, "A Massa" é classificada com aclamação na segunda eliminatória do festival. Com o sucesso imediato que a música alcança, fazendo o nome de Raimundo Sodré conhecido em todo o país, a gravadora não perde tempo, e coloca no mercado o LP "Massa", o seu primeiro disco. Segundo contam, a altíssima vendagem que o disco alcançou, tirou a gravadora do vermelho.

Pouco depois, em maio, Sodré é convidado pelo amigo Djalma Correa para participar junto com o Baiafro, nos Estados Unidos, do festival Latino Percussion. Realizaram duas apresentações em Nova Iorque, a primeira no Teatro Simphony Space, na Broadway, e no Teatro Luth Gold Center, no bairro do Brooklin. De volta, Sodré cai na estrada para divulgar o seu disco, viajando pelos estados do norte, chegando à região amazônica, para shows nas cidades de Belém, Manaus, Santarém, Parintins, Porto Velho. Analisando esse roteiro, dá para se ter uma idéia do alcance do sucesso d'A Massa". Toda essa movimentação, serviu para esquentar as turbinas para a final do festival MPB 80, que se aproximava.

Finalmente em agosto, no palco do Maracanãzinho, "A Massa" arrebata o terceiro lugar, arrematando o sucesso que a música já tinha em todo o país, como a música mais popular do festival. Em todos os cantos do país por onde se passava estavam tocando "A Massa".

No inicio de 1981, com pouco mais de seis meses do lançamento do seu primeiro disco Sodré entra mais uma vez nos estúdios para gravar as canções de seu segundo disco, "Coisa de Nego". Todo o ano foi dedicado a apresentações pelo país a fora. Finalmente, ele recolhia os louros da dura batalha que havia travado. Aproveitando de sua fama, a Polygram lança para o carnaval, um compacto simples com a música "Bateu, Ganhou", dele e Jorge Portugal.

Depois de trabalhar ininterruptamente por dois anos, 1982 foi tirado por Sodré para descansar e para compor calmamente seu novo repertório. Somente em janeiro de 1983, Sodré é convocado pela Polygram para gravar o último LP de seu contrato.

O novo trabalho, começou a ser produzido por Djalma Correa, com arranjos do maestro Juarez Araújo. Mas, no meio das gravações o produtor viajou para os Estados Unidos e permaneceu por lá durante tanto tempo que a gravadora exigiu que fosse providenciado outro profissional para finalizar o disco. O escolhido foi o produtor João Augusto, que condicionou a sua entrada a começar tudo do zero, ficando de fora aquelas músicas que já haviam sido gravadas com a produção de Djalma Correa, umas quatro ou cinco faixas.

"Beijo Moreno", é considerado por Sodré como o seu disco melhor realizado. O novo trabalho proporcionou ao artista a retomada de suas atividades com o show "Cantações", realizado na Sala Funarte. O mesmo show é apresentado no Circo Voador e depois segue em turne por várias capitais brasileiras. No inicio de 1984, com o lançamento do compacto simples "Pica-Pau Brasil", Raimundo Sodré fecha o seu ciclo na gravadora Polygram.

Em 1990, no inicio do ano, Sodré foi convidado pelo Comitê de Solidarieté France Brezil, para fazer um Carnaval no Cirque d' Hiver, acompanhado de sua banda, formada pelos músicos Chagas Nobre na guitarra, Carlinhos Wernck, no baixo, Elber Bedaque, na bateria, e o percurssionista Chaplin. O sucesso foi tanto que um mês depois o Comitê o convidou para outra apresentação, desta vez no New Morning, conceituada casa de espetáculos parisiense, mais especializada em jazz. Logo após o show no New Morning, foi contratado para fazer dois shows na Inglaterra, um no Subterranean Club, e outro no África Café, em Londres.

Ao conhecer a Cidade Luz, Sodré se apaixona e resolve ficar na França, tendo direito de solicitar a sua Carta de Sejour. Carta está que virou tema de uma canção, lançada em 1994 no disco "Real", que alcançou muito sucesso na França, tocando até hoje na Rádio Nova, de Paris.

Nos anos seguintes viaja por toda a Europa, tocando em festivais na Alemanha, Suíça, Dinamarca, Grécia, Marrocos, e Índia.
Em 1993, Sodré vem ao Brasil especialmente para gravar em São Paulo o seu quarto disco, "Real". O CD, teve a produção executiva de Venance Journé para a H2 Produções, foi lançado em 1994, na Europa, pela gravadora alemã Tropical Music e editado no país, em 1996, pela gravadora RGE.

Vindo sempre ao Brasil, em 1999, Raimundo Sodré aparece como convidado no CD "Pescador de Canções", do colega Wilson Aragão. Neste mesmo ano, realiza na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, um grande show ao lado do paraibano Zé Ramalho. Surgindo daí, a vontade de voltar a morar no em seu país. O que, efetivamente, veio acontecer em janeiro do ano 2000.

Neste mesmo ano, já residindo em Salvador, fez show no teatro ACBEU, no projeto "Terça da Boa Música", e várias apresentações em variados espaços musicais do centro histórico, Pelourinho. Para comemorar o seu retorno, participa do CD "Do Lundu ao Axé - Bahia de Todas as Músicas", lançado pelo Governo do Estado, através do Projeto Faz Cultura, cantando a música "Filho da Bahia", do sambista baiano Walter Queiroz, ao lado de Luis Caldas. Ainda em 2000, lança um CD-demo com o baião "Cadim", visando a programação das rádios do interior para o São João daquele ano.

Em 2003, Raimundo Sodré lançou o CD "Dengo", o seu quinto trabalho individual. O disco marca nova etapa em sua carreira. Nele, Raimundo Sodré mostra que está em plena forma, compondo, tocando e cantando como nunca. "Dengo", é o movimento de retomada da posição que nunca deixou de ser sua: a de um dos mais autênticos artistas populares de sua época. Isso não é pouco.

Axé, Raimundo Sodré!

Roberto Torres

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