Excetuando as porcarias que
nos são impingidas pela ficção televisiva de certas estações, poderemos
concluir que a música portuguesa está a melhorar e a crescer a muitos níveis
nos últimos dois pares de anos. Também a música em língua portuguesa tem
originado projetos surpreendentes, arrojados e inovadores. Obrigado aos novos
compositores, às produtoras e editoras, e claro, às estações de rádio pela
excelência, aposta e divulgação da nova música portuguesa.
Entre os surpreendentes novos
projetos encontram-se os Rosa Negra, com o seu primeiro trabalho “Fado Ladino”.
Sendo a alma fadista ponto de partida para tão arriscada aventura, imagine-se
uma caravela, cuja tripulação é composta por percussão, violinos, violas,
violoncelo, contrabaixo, acordeão, trompete e piano, viajando pelo Mediterrâneo
onde em cada paragem absorve elementos da cultura musical de cada país costeiro
espalhado pela África Setentrional e pelo Médio Oriente. Tudo isso aliado ao
doce timbre de Carmo, voz do fado, voz do destino, palavras que podemos encarar
com respeito, mas também com liberdade, a liberdade de encontrá-los à nossa
maneira. E os Rosa Negra conseguem dar liberdade ao fado envolvendo-o em
arranjos de inspiração mediterrânica, desértica e ibérica, atribuindo-lhe uma
estética musical muito própria.
“Sopra
uma brisa quente que me leva, ao oriente que há em mim...”, é a frase de
partida do tema que dá nome ao álbum, o qual na audição nos leva e cruza por entre
caminhos imaginários através de diferentes culturas. “Fado Ladino” inclui 12
temas, sendo a sua maioria versões de clássicos do fado. Apesar de adorar todo
o álbum, destaco as versões de “Barco Negro” e “Novo Fado da Severa”, o
excelente instrumental “Deserto de Rosas”, e o tema-título “Fado Ladino”.
“Ladino é cigano, é judeu, é
mouro, é latino, mas também é puro, legítimo, astuto e vivo. Enfim, ladino é o
nosso fado porque ladina é a nossa origem.”
Depois de um intervalo de 5
anos, o projeto ROSANEGRA reaparece com um novo CD e uma proposta
surpreendentemente renovada. E se o primeiro álbum, “Fado Ladino”, editado
“worldwide” pela editora anglo-americana ARC e tão celebrado e premiado pela
crítica nacional e internacional, encontrou as estirpes fadistas no nosso
passado sefardita e moçárabe, o novo “FADO MUTANTE” sugere uma linguagem mais
intemporal mas formalmente mais contemporânea, perspectivando o fado como um
ser vivo que, pela sua condição, sempre há de estar em permanente mudança. O
resultado final é sutil e arrebatador, cool e apaixonado, ressonância duma
diáspora passada e futura.
A banda dirigida pelo músico
/ compositor Rui Filipe, transformou-se num coletivo entusiasmante em que a voz
de Jonas, tão íntima quanto desgarrada, o violoncelo e o clarinete de Sandra
Martins, o violino de Cindy, o acordeão, os teclados e as guitarras de Rui
Filipe, são os principais protagonistas. Além deste núcleo duro, outros músicos
e convidados colaboraram na feitura destas novas pétalas de ROSANEGRA, duas
mãos cheias de canções originais, sugestões de fados que hão de ser, ora
sombrios ora luminosos, mas sempre com luz própria.
“CURRAL DA MOURARIA” é o tema
escolhido para o 1º single, 1ª amostra do novo álbum de ROSANEGRA que terá a
sua edição no Outono. Trata-se de um excitante fado corrido, lamento feito
festa fadista e... Oiçam. Outra vez. E digam...
*FADO MUTANTE foi produzido
por RAGA dentro do seu espírito de “Música Portuguesa Planetária”, integrando o
patrimônio em dinâmicas de inovação, e editado pela IPLAY, sempre à procura da
nossa nova música.
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