O Samba de Coco Raízes de
Arcoverde mantém a tradição do coco na forma mais pura e original. Com
influência das culturas negra e indígena, o grupo representa o amor pelas
raízes culturais entre duas famílias, pois para os Gomes e os Calixto, o samba
de coco é mais do que música, é um modo de vida.
Era 1916 quando as tataravós
das irmãs Lopes começaram a cantar e dançar o samba de coco em Arcoverde,
cidade chamada de Portal do Sertão. Em 1947, a família foi morar no Cruzeiro,
bairro simples de Arcoverde, onde surgiu o Samba de Coco das Irmãs Lopes de
Arcoverde. Dona Joventina Lopes e seus 15 filhos deram início a essa tradição
na cidade, e em meados dos anos 50, Ivo Lopes, um dos filhos de Joventina,
assumiu a linha de frente do grupo, junto às irmãs. Posteriormente o Mestre Biu
Neguinho, Tonho Moura, Zé Feitosa, Romeiro, Cícero Gomes e outros amigos se
juntaram ao grupo. Ivo Lopes faleceu e suas irmãs, as Irmãs Lopes (também
membros da família Gomes) deram continuidade ao samba de coco, dando origem em
1992, junto à família Calixto, ao Samba de Coco Raízes de Arcoverde.
Os irmãos Calixto, Luiz
(Lula), Damião e Francisco (Assis), nascidos em Sertânia, no sertão
pernambucano, chegaram em Arcoverde por volta de 1952. Assis Calixto (foto), um
dos principais autores das loas (músicas) do grupo, já possua uma vivência com
o coco alagoano e maranhense, por ter tido contato com alguns cantores. O irmão
Lula Calixto foi quem criou o trupé, um tamanco de madeira que serviu para dar
força às pisadas do samba de coco, característica do Samba de Coco Raízes de
Arcoverde. Cícero Gomes, que começou com as Irmãs Lopes, explica que no início
só existia o ganzá, e que nos anos 1970 foram introduzidos o pandeiro, o surdo
e o triângulo. Antes de o trupé ser inventado, o que se dançava era um samba de
coco com pisada menos rápida, chamado por eles de Mazurca.
A Mazurca antecedeu o ritmo
acelerado do trupé, e assim como o samba de coco feito com roda, aquele
conhecido por Selma do Coco por exemplo, difere muito do coco feito pelo Raízes
de Arcoverde. Vejamos os porquês: antes do trupé, o ritmo era tocado
basicamente pelo ganzá, e antes disso, era tocado com um maracá, o que explica
sua origem indígena. No litoral, sempre se usou mais tambores e congas, além da
zabumba, numa dança mais solta e com menos pisada. Para a sonoridade de tambor,
o Samba de Coco Raízes de Arcoverde usa um bombo e, de maneira autoral, o
trupé. Este instrumento foi para eles uma evolução do ritmo, sendo o
diferencial do coco feito pelo grupo – o pandeiro é então usado de maneira
menos acelerada, com marcação feita pelo trupé e triângulo, e com a resposta
(coro feminino).
O xaxado, o samba de roda e
ritmos indígenas são fortes influências no coco feito pelo grupo. As letras
compostas por Assis, Damião e pelo falecido Lula Calixto, além de Cícero Gomes,
são um retrato da vida simples do povo sertanejo, cantando os animais, a
natureza, a alegria ou os sofrimentos, o amor e a religiosidade do povo
simples, trazendo muitas lembranças de vida. Também há duas categorias de dança
no Samba de Coco Raízes de Arcoverde: o coco trocado, quando se dança em
parelha de mãos dadas, indo para um lado diferente do acompanhante, e o coco de
lenço, onde cada parceiro segura um lenço, fazendo os mesmo movimentos da outra
categoria.
Apesar de ter surgido em
1992, nessa época ainda junto às irmãs Lopes, que hoje fazem trabalho
separadamente, o Samba de Coco Raízes de Arcoverde só ficou conhecido em 1996,
quando começou a viajar para fazer apresentações. O grupo já viajou para
Bélgica, França, Itália, além de várias cidades brasileiras. Em 2005, a
caravana foi selecionada no projeto Rumos da Música, do Itaú Cultural, que dá
espaço para a produção contemporânea de arte e cultura do Brasil.
Em 1999, Lula Calixto falece,
aos 57 anos. Todos os anos a família recebe amigos e visitantes para comemorar
o aniversário do mestre, no mês de Novembro, o que originou em 2005 o Festival
Lula Calixto. A primeira edição do festival ocorreu em frente à casa da família,
sem patrocínios, com a presença das Irmãs Lopes, Grupo Afoxé Oyá Alaxé, entre
outros. Atualmente, o evento ganhou grande repercussão e passou a ser um evento
importante na cidade de Arcoverde, com oficinas, palestras, palcos para
apresentações de grupos e artistas de várias regiões.
O grupo tem 3 CDs gravados. O
primeiro “Samba de Coco Raízes de Arcoverde”, lançado em 2000, tem 12 faixas,
entre os sucessos Seu Maia, Loruá, Acorda Criança e A Caravana não morreu. O
segundo CD, intitulado “Godê Pavão”, de 2003, possui 15 faixas, entre elas:
Abelha Aripuá, Galinha Zabelê e Despedida de amor. Em 2010, com a contemplação do Prêmio
Circuito Funarte de Música Popular, pela Funarte e Ministério da Cultura, o
grupo lançou “A caravana não morreu”, com 12 faixas.
A casa de Lula Calixto hoje é
a sede do grupo e pequeno museu do Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Damião
Calixto e Assis Calixto estão à frente do Samba de Coco Raízes de Arcoverde,
junto aos filhos, irmãos e sobrinhos, preservando o ritmo e a poesia do coco de
trupé.
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