A música regional brasileira
teve nos anos 70/80 o seu maior auge. Entre tantos Grupos e músicos surgia o
Grupo Agreste. Era meados dos anos 70 e em Montes Claros/MG. Um grupo de jovens
rapazes de vários cantos desse nortemineiro se encontrava para cantar e
conquistar as mocinhas. Era ditadura militar que imperava no Brasil, mas eles
sempre estavam em efervescência com suas músicas e poesias. No domínio do
microfone, Pedro Boi era o vocalista da banda que também, ao lado do Gutia,
mandava no violão. Zé Chorró, o artista plástico do grupo destoava no baixo. A
harmoniosa flauta transversal era e é sempre um show a parte nos assopros de
Sérgio Damasceno, o chamado Carinha. Tom Andrade era outro que soltava a voz e
debulhava o violão. A percussão, presença forte nessa música regional, ficava a
cargo de Manoelito, Toninho e Ildeu Braúna. O Grupo Agreste era formado por
sete músicos, entre os quais, jornalistas, sociólogos, poetas e artista
plástico.
O GRUPO AGRESTE lançou seu
primeiro disco em 1980 pelo selo Cristal gravado no Estúdio Bandeirantes-SP com
produção de Téo Azevedo. Logo a banda estourou no cenário nacional e duas de
suas músicas, Zumbi e Jaíba, estavam incluídas na trilha sonora da
novela Rosa Baiana da TV Bandeirantes. Em 1982, a banda gravou
no Estúdio Mosh-SP seu 2º e último LP e nesse ultimo trabalho estão as duas
músicas que mais desenham o Catrumano Geraiseiro (O CATRUMANO é a figura do
sertanejo Norte Mineiro(GERAISEIRO) que com muito duro sempre trabalha para a
sua sobrevivência e apesar de todas as dificuldades nunca perdem o brilho do
sol no sorriso.) e que mais sintetizam esse povo nortemineiro, as músicas A
LENDA DO ARCO IRIS e PONTE CIGANO. Zumbi é outra música que sempre deixa a flor
da pele toda a sensibilidade de quem a escuta e seu trecho marcante “...quem
nasceu para ser guerreiro/ não aceita cativeiro/ por isso eu decidi/ a sua
chibata/ por mais que me bata/ se não em mata/ eu volto a fugir...” Mais
que uma pérola da música brasileira, é uma aula de história e uma volta ao
passado para uma reflexão para o presente e futuro.
Disse ASSIS ÂNGELO (jornalista,
crítico de MPB, radialista, pesquisador e folclorista): “O Agreste (Grupo)
marcou presença no curto tempo que existiu. Notadamente por fazer um trabalho
já aquela época diferente do que costumava aparecer nas chamadas paradas de
sucesso, sempre tão ao gosto das grandes gravadoras”. Sintético e verdadeiro o
comentário de Assis Ângelo.
Pena Branca e Xavantinho juntamente com Renato Teixeira gravaram “Quebra
Milho”. Sérgio Reis se encantou e gravou “Tocador
de Boi”. Dezenas o números de músicos que gravaram o Grupo Agreste.
Entre as músicas mais
gravadas do Grupo Agreste encontra-se:
A Lenda do Arco íris (Ildeu Braúna):
“veja morena que belo arco
íris/ bebendo água no meio do rio/ chuva estiada festival de cores/ beleza
igual aqui nunca se viu... ôi canoeiro não saia pra pesca/ não enfrente o rio/
conta a lenda que virou mulher/ todo pescador que ele engoliu... o são
Francisco é sua morada/ caboclo d’água foi quem descobriu/ quando eu morrer/ me
enterre numa cova rasa/ bem no meio dessa mata/ lá na curva desse rio”
Rasante ( Ildeu
Braúna)
“Voar rasante/ sobre a
cidade/ como andorinha voei/ de asas cansadas/ no fim do dia/ como andorinha te
procurei/ nos labirintos das ruas desertas/ criança levada eu te encontrei/ mas
que bons ventos te trazem aqui/ qual pirilampo/ tão serelepe a festejar”
Ponte Cigano (Ildeu Braúna)
“não pode entender/ quem
nunca sentiu o cheiro/ da terra molhada/ quando a chuvarada molha as terras do
gerais/ não pode me entender/ quem nunca matou a fome/ com raiz de macaxera/ e
a fruta do ananás/ e a minha terra/ fica na ponta dessa estrada/ uma picada
vara o verde e leva lá/ não chega a ser um pontinho preto no mapa/ mas quando a
gente se afasta/ coração pede pra voltar...”
Ave de Arribação (Gutia/Pedro Boi/Manoelito)
“quem faz da vida um
veleiro/ entregue ao deus dará/ deixa seu porto primeiro/ alcança o cais
derradeiro/ se o vento do acaso levar/ morena cor de canela/ ave de arribação/
deixa esse porto morena/ e assenta em meu coração/ venha comigo morena/ vem
aprender a navegar/ mistura a vida com a morte/ destino, sina com sorte/ no
balanço deste mar...)
Andança (Tom Andrade/Rubinger),
Quebra Milho (Tom Andrade/Manoelito)
Mutirão (Ildeu Braúna),
Chegança (Gutia)
Lamento Agreste (Tom Andrade/Manoelito)
Praça da Matriz (Ildeu Braúna),
Clareando (Sérgio/Gutia)
Cantiga de Roda (manoelito),
Zumbi (Ildeu Braúna)
Saudade Teimosa (Tom Andrade/Manoelito),
Jaíba (Ildeu Braúna)
Cachoeira (Ildeu Braúna),
Messias Latino (Ildeu Braúna/Gutia)
Ao fim do Grupo, cada um
tomou seu rumo, porém sem perder os laços e sem se afastar de suas raízes e
dessa Montes Claros.
Ildeu Braúna, autor de vários livros e por três vezes secretário
de cultura. Ainda compõem com frequência e sempre com suas origens e traços
fortes.
Chorró se direcionou como empresário gráfico e artista
plástico. Um artista de criação 24 horas ininterruptas.
Pedro Boi ainda solta a voz e debulha a viola e é
proprietário de um bar, “Curral do Boi”, que é sem dúvida, um
ambiente delicioso e carregado desse ar único de Montes Claros.
Tom Andrade sempre na ativa e sempre se superando como
cantor e compositor. Ele é a própria música.
Manoelito é outro combatente no fazer música e não apagar
a luz desse nosso regional.
Gútia e mora em BH.
Toninho – sem notícias.
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