A origem interiorana
natural de Sorocaba - SP, o coração mineiro e a alma universal. Os ingredientes
vão se mesclando a uma sonoridade valorizada pelos detalhes dos arranjos. O
primeiro CD do compositor Nilson Ribeiro traz sabores vários da matriz musical
da raiz da MPB. Desde a sonoridade inconfundível da viola caipira, magicamente
orquestrada por Ivan Vilela, à surpresa oriental da tabla, um instrumento de
percussão que inesperadamente compassa a última canção do CD. "Ninho das
Coisas", portanto, é um título mais que sugestivo para esse primeiro
trabalho, onde elementos quase esquecidos da nova MPB são muito bem
valorizados. Assim, as letras carregam o ritmo natural da poesia quase cabocla
das canções, com ritmo próprio. As melodias, quase sempre simples e fáceis, são
moduladas por ritmos que passeiam das velhas cantigas de ninar ao inconfundível
xote, passando por valsinhas e baladas, mas sem perder o tom urbano, como no
caso da canção Sangra São Paulo, um retrato poético, mostrando outra cidade que
se esconde por trás do caos metropolitano. Ninho das coisas tem a mão de Sérgio
Turcão na direção musical e arranjos, garantindo uma brasilidade em doses corretas
dos instrumentos acústicos.
O trabalho é todo
acústico. Dos violões às flautas, dos bandolins ao piano, os lamentos das
cordas do cello e do violino e até mesmo o contrabaixo. Todos acústicos, dando
ao clima das canções um ambiente intimista, quase individualista, capaz de
tocar os sentimentos e emocionar.
Por isso, as 14
canções têm uma identidade entre si, seja pela sonoridade acústica, pela linha
melódica ou pelo estilo das letras, que mergulham nas lembranças do compositor,
em "Velhos Retratos", divertem com paixão, como em "Mel e
Limão" e "As três mais belas", mostram a mineirice de suas
influências, como em "Mariana" e "Confidências Mineiras" ou
simplesmente exploram o universo lúdico, como em "Lua no Ar" (com
participação luxuosa de Gabriel Lima, de apenas 6 anos), "Raphaela",
"Estrela que eu nem mereço" ou "Fantasia". É, em última
análise, um CD para se ouvir com atenção, para poder saborear todos os tons, as
particularidades de cada arranjo e se enternecer com as poesias.
Nilson Ribeiro tem
formação jornalística. Venceu vários festivais universitários na década de 80 e
é figura fácil nos palcos dos bares de Campinas e Sorocaba. Foi no ano de 1999,
contudo, que decidiu investir definitivamente na carreira artística. O CD
"Ninho das Coisas" é uma produção totalmente independente, gravada
sob o selo da Carambola Discos, que foi responsável pela produção artística.
Apesar de ser o
primeiro trabalho do compositor, mostra uma maturidade adquirida em muitos anos
de estrada musical, uma seleção feita entre mais de uma centena de composições
até então engavetadas. Foi o próprio Sérgio Turcão (ex-Tarancón, atualmente
realizando apresentações com Jica) um dos grandes incentivadores para a
gravação do CD. "O trabalho conta uma história, transpassada pelas
músicas, cuja identidade é logo e facilmente identificada. É algo de novo na
MPB, diferente da regionalidade de Renato Teixeira ou Almir Sater, mas que
esbarra nas mesmas influências", diz Turcão.
O compositor Nilson
Ribeiro já foi repórter e editor nos dois jornais de Campinas. É premiado
também pelo Concurso de Poesia de Piracicaba e tem alguns outros trabalhos
publicados em jornais e revistas. "Até 1999 eu fazia da música uma
diversão. Então, decidi me divertir com o trabalho e mergulhei de cabeça nessa
produção. O resultado me satisfaz muito, principalmente pelo clima que foi
conseguido pelo Turcão nos arranjos", diz o compositor.
Nilson Ribeiro
acredita que ainda há espaço para o que ele considera a "boa MPB".
"Apesar da insistência da mídia, em geral, valorizar o que há hoje de mais
pobre na nossa produção musical, ainda existem alguns redutos de boa música,
rádios que mostram que é possível manter a relação entre o comercial e o
artístico, sem apelar para a baixaria. Alguns programas de TV ainda arriscam
mostrar artistas brasileiros com verdadeiro talento. E nomes como Chico César,
Zeca Baleiro, Guinga, Celso Viáfora e outros vão ganhando seu merecido espaço
entre um ou outro tcham da vida", diz ele.
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