O
Violeiro, cantor e compositor goiano Domá da Conceição é um dos principais
representantes da cultura popular em Goiás e o seu segundo cd ganhou o título
de Pé no Chão. As canções registradas no mais recente álbum são uma amostra das
influências musicais que ele recebeu desde a infância nas rodas de violeiros e
festas de Folia de Reis em Abadia de Goiás – GO. Desta vez o musico procurou
valorizar os timbres da viola caipira e se valeu de três afinações distintas
(rio abaixo, guitarra e cebolão) para registrar as 11 faixas do cd.
Pé
no Chão não tem a ampla instrumentação de Anjo Alecrim, o primeiro disco, desta
vez o músico assumiu sozinho o desafio de produzir e arranjar todas a faixas.
Para registrar as músicas, ele contou apenas com o irmão Catupé (Vilmar de
Souza) no violão (e em algumas percussões), Amin Braga com sanfona em duas
faixas e os catireiros Dionísio Bombinhas e Liz Eliodoras no recortado de
catira de domínio público: Onde a Rainha Mora. “O meu objetivo foi valorizar as
letras e a minha interpretação e o timbre da viola caipira, que numa concepção
instrumental mais complexa acaba sendo ofuscado”, explica Domá.
Parcerias
– No cd Pé no Chão de Domá aparecem algumas parcerias que ele fez ao longo da
vida. O repertório traz músicas mais recentes e outras que Domá revirou de sua
memória para gravar. É o caso de A Doma da Fera, feita nos anos 80 com Pio
Vargas, letrista já falecido. O publicitário e poeta Leo Pereira e Domá
lapidram uma bela crônica musical que ganhou o nome de “Emboscada”, uma das
melhores faixas do disco. Nela o interprete narra as dificuldades de perseguir
o sonho de artista. O refrão diz: “Fui tapete de banheiro/ Da polícia fui
pandeiro/ Já dormi “ni” galinheiro/ Das galinha eu fui puleiro..., e foi assim
vencendo as emboscada da indústria cultural que Domá, um autêntico defensor da
cultura popular disponibilizou mais uma página musical para nossa apreciação.
Biografia
O
músico nasceu no interior do estado (Abadia de Goiás – Go) e aprendeu os
primeiros toque de viola com o pai violeiro e devoto da Folia de Reis. O menino
tomou gosto pela coisa e, aos 17 anos, mudou-se pra capital (Goiânia) com a
esperança de seguir carreira musical. Em Goiânia, o violeiro caiu na primeira
“emboscada”, pois teve um choque com a cena musical que encontrou na cidade
grande. Assim, o jovem violeiro se viu obrigado a assimilar o que a indústria
cultural impunha como modelo. Na tentativa de se ajustar ao gosto da vida
urbana trocou a viola caipira pelo violão de 12 cordas, deixou as folias de
reis e canções aprendidas com seu pai e adotou o rock, o blues e a mpb.
E
foi com esta nova roupagem que Doma embrenhou pelos festivais da década de 80,
“comecei a tocar violão de 12 cordas depois que vi Jimi Page (guitarrista da
extinta banda inglesa Led Zeppelin) fazer o mesmo, eu tinha vergonha de falar
que tocava viola caipira”, contou, Domá. As primeira participações em festivais
em Goiás e outros estados já traziam traço da sua transformação. Ele “bebeu” de
tudo com vontade, de Bob Dylan a Irom Maiden”. De festival em festival o
artista foi sendo forjado e aos poucos sugiram as premiações em Goiás, Minas
Gerais e São Paulo. Prêmios em festivais, no entanto, não significava mais
garantia de sucesso imediato como antes. Os festivais começavam a dar os
primeiros sinais de esgotamento. “Ai eu me frustei, o festiva perdeu a graça.
Desmotivado e deprimido e voltei pra roça em Abadia”, relata Domá.
Projeto
Classe - A retomada das folias e dos ritmos da infância vieram devagar.
Primeiro trocou o violão de 12 cordas pela viola, mudou o visual e passou a
cultivar barba comprida e ao poucos foi abraçando o universo cultural da
infância. Em certa ocasião Domá conheceu a cantora e folclorista Ely Camargo, e
dela ouviu o conselho que o conhecimento de que ele tinha poderia ser levado
pras escolas públicas. A partir daí o músico alimentou o sonho de ser o palhaço
de folia Anjo Alecrim. Matutou, matutou e com muita coragem e nenhum dinheiro
criou o Projeto Classe. Domá de viola na mão e disposição de sobra foi
percorrer as escolas pública ensinando sobre a Folia de Reis e apresentando as
cantorias que aprendeu com o seu pai. Ao final dos encontros sempre chamava à
atenção dos alunos apontando para a perda irreparável que sofrem aqueles que
desprezam sua própria cultura.
Premiações
- Após 20 anos de carreira Domá da Conceição chegou às telas de cinema através
do documentário “Anjo Alecrim”, produzido e dirigido pela cineasta Viviane
Louise, que recupera passagens importantes da vida e obra do artista. O filme
foi exibido em Paris, na programação do ano do Brasil na França em 2004, ganhou
prêmio de melhor trilha sonora no Festival Internacional de Cinema e Vídeo
Ambiental (FICA)em 2005 e prêmio de melhor direção no Festicine em 2006. O
curta Anjo Alecrim, homônimo ao primeiro CD, recupera passagens importantes da
vida e carreira do artista, um dos mais destacados representantes das folias de
reis do Centro-Oeste. Em 2007, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria
da Identidade e da Diversidade Cultural reconheceu o Projeto Classe, dando o
Prêmio Culturas Populares 2007 - Mestre Duda 100 Anos de Frevo.
Que pais é esse??? O ícone da música primitiva, um homem que traz no seu semblante as estorias e a cultura de um povo, sem os devidos reconhecimentos . Um herói brasileiro, muito lindo, perfeito explendido... muito obrigado!!!
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