[2005] Assis Batista – INQUIETUDE
Por Ivan Matos
Francisco de Assis Batista da
Rocha, o Assis Batista, é nascido em São Pedro do Piauí, cidade ribeirinha da
região do Médio Parnaíba, de formação essencialmente católica, o que
influenciou fortemente a cultura do seu povo, cujas manifestações traduzem
essas raízes.
Originalmente, São Pedro do Piauí
foi habitada por povos vindos do Pernambuco, Paraíba e Ceará atraídos por
terras ricas com potenciais para o cultivo do arroz.
Mais precisamente, Assis Batista
é oriundo da localidade Ponte de Pedras, situada a (mais ou menos) 35 km do
centro urbano de São Pedro do Piauí, onde as manifestações de Reisados, Rodas
de São Gonçalo e Danças de São Benedito são as expressões culturais
mais intensas.
É desse panorama sociocultural e
de uma família de artistas, de músicos e de muitos poetas que brota o cantor e
excelente intérprete Assis Batista que, ainda menino, foi morar em Teresina,
onde se criou e se dedicou à música. Assis Batista toca violão, seu
instrumento-base, cavaquinho e guitarra.
Como todo artista da música,
iniciou sua carreira se apresentando nos bares da capital. No final dos anos 1970,
fundou e integrou com outros artistas piauienses o Grupo Varanda, que durou
cerca de meia década (1979-1983) e cuja trajetória foi muito importante para a
expressão musical do Piauí e para formação profissional dos seus componentes.
Com o Grupo Varanda, Assis
Batista se apresentou no Teatro 4 de Setembro e na Universidade Federal do
Piauí e participou dos diversos festivais que a época proporcionou, tendo o
auge no 1º FMPBEPI – Festival da Música Popular Brasileira do Estado do Piauí -
1980, promovido pela TV Clube, afiliada da Rede Globo, onde ficou o único
registro musical gravado pelo Grupo, as músicas “Quintal de
Passarinho” (Paulo José Cunha e George Mendes) e “Milagre na Terra” (Naeno).
Apenas em 2005 Assis Batista
conseguiu gravar seu primeiro e único álbum solo. O projeto do segundo está
pronto e o álbum por vir. Este Inquietude (2005) é o retrato da trajetória e da
estrada desse excelente cantor-intérprete. Nele está exposta toda a sensibilidade
do artista.
Detentor de uma voz melodiosa,
Assis Batista é tenor com tendências a mezzo-soprano, de um agudo singelo que
beira à quarta oitavada (C4), o que lhe dá uma característica singular, única.
Os ouvidos mais atentos
perceberão a sutileza de suas interpretações, que levam o ouvinte a recriar as
imagens cantadas nos versos das cantigas bem escolhidas para o repertório.
Numa delas, o intérprete nos
remete a um pôr do sol sereno e triste, quase refletindo dor e, quase que
precisamente, descreve a saudade de “quem tem amor muito longe não pode
ouvir trovejar” quando canta ”... já a tardezinha com o cair
do sol” (versos da composição “Trovão” de Jorge Melo). A leveza de sua
voz provoca-nos a imaginar e a ouvir um trovão tão suavemente como uma nota
musical melodiosa.
Da mesma forma, a suavidade
melódica dos tons de sua voz traduz o sentimento preciso do compositor na
canção Inquietude, do compositor Naeno. É como se o intérprete se
apropriasse do sentimento exposto pelo compositor. Nessa canção, o poeta
compara seu medo de amar com o distanciamento e a proximidade de um rio com o
mar e o intérprete insinua a inquietude desse movimento com lapsos de timidez e
presteza dos tons de sua voz.
Este é Assis Batista que, em seus
mais belos tons, harmoniza sua voz e sua sensibilidade para emprestar suas
interpretações aos arranjos instrumentais e poéticos das belíssimas canções que
compõem o Inquietude (2005), seu primeiro álbum solo,
cujo repertório de músicas e de músicos conta e demonstra a trajetória
estradeira da sua vida musical.
Simplício Mendes Piauí, 17 de
maio de 2020
Detentor de uma voz muito afinada!👍
ResponderExcluirUm resgate da música Brasileira para além do RJ/SP
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