Mongol nasceu Arlindo Carlos Silva da Paixão no ano de 1957 na
atual Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em
Laranjeiras. Seus pais e avós (mulheres) materna e paterna nessa época moravam
num cortiço na Rua Grajaú n° 36, onde o garoto foi criado. Aos 6 anos de idade,
sua avó paterna (Isabel) o levou a tira colo para um serviço de diarista que
realizava na casa de um pediatra (Dr. Jaguaribe). Ao ver a criança, o
médico constatou uma puberdade precoce anormal para um menino. O doutor se
dispôs a acompanhar o crescimento do garoto, o que imediatamente foi aceito por
dona Isabel. Mongol foi acompanhado por uma equipe médica (incluindo psicólogo)
durante sua infância. A puberdade precoce causou um crescimento físico e
psicológico bem mais rápido do que as outras crianças. Na escola primária onde
as crianças se enfileiravam por tamanho antes de entrar em sala, Mongol era o
último da fila, por ser o mais alto. Todos acreditavam que aquele menino seria
gigante. Até então o apelido Mongol não existia, os amigos só conheciam o
Arlindo. Por ser grande e conviver com crianças menores, o aluno evitava o
sarro (hoje chamado bullying) nos colegas de turma, pois os maiores tinham medo
dele.
Aos 10 anos de idade entra para o time de futebol de salão do
Grajaú Tênis Clube. Seu tamanho dava-lhe vantagem sobre os outros meninos.
Nessa época havia dois apelidos no futebol para esse tipo de criança: o
primeiro era gato (aquele que falsifica a certidão de nascimento para jogar em
categorias inferiores), como o atleta não se enquadrava nesse modo, foi lhe
dado o segundo apelido, mongol, que se referia ao povo bárbaro muito difundido
nos filmes da época (Hércules Contra os Mongóis, Gengis Khan), caracterizado
pelo tamanho e força. Mongol também eram chamadas as crianças com a Síndrome de
Down e isso não afetava o garoto, pois devido ao seu tamanho fora do comum,
como foi dito antes, eram raros os meninos que se atreviam a fazer bullying com
o pequeno grande pseudo capoeirista. Sim, tinha esse detalhe, Mongol, que
assumiu o apelido, jogava capoeira com os baianos do cortiço, mas a ele só
interessava os paços e a música, mais do que os golpes. Os capoeiras eram
temidos e os meninos do cortiço também. O capitão do time de futebol de salão
nessa época chamava-se Oswaldo Montenegro. Oswaldo e Mongol gostavam de música
e logo passaram a frequentar rodadas musicais. As ruas do Grajaú ficaram
pequenas para os dois garotos que andavam sempre juntos, onde viveram literalmente
grandes aventuras.
Aos 12 anos de idade, o acompanhamento médico (com medicação
inclusive) foi suspenso, pois o desenvolvimento havia se estabilizado. O
crescimento já não era mais anormal e os hormônios estavam controlados. Os
amigos então foram crescendo e a maioria ficou mais alta que Mongol, que ainda
assim quis levar o apelido, agora guardando a pureza das crianças com a
Síndrome de Down. As composições com Oswaldo Montenegro vieram na adolescência
e foram tantas que algumas se perderam na memória, mas volta e meia eles
resgatam alguma.
Em 1977, influenciado pelo pioneirismo de Antônio Adolfo, Oswaldo
grava seu primeiro disco independente, e lá estavam as parcerias com Mongol. Em
1979 a Warner lança o primeiro disco de Oswaldo Montenegro – Poeta Maldito e lá
no final como uma espécie de amuleto estava uma parceria da dupla fechando o
LP. Em 1980 Oswaldo defende a canção Agonia de Mongol, no festival MPB 80 da TV
Globo. A música sai vencedora fundindo definitivamente a carreira musical
desses dois artistas. Isso tendo o fato de que no mesmo ano a canção Aquela
Coisa Toda também composta por Mongol entra na trilha sonora da novela Marina
da mesma Rede Globo.
A Warner então, convida Mongol
para fazer um disco. Recém acostumado com o sucesso, o artista não entendeu a
importância de gravar um disco, já que não tinha planos de ser cantor. O
trabalho se resumiu a um compacto e não teve sequência. Perguntado sobre que
música foi gravada, Mongol diz que lembra vagamente que uma delas falava de
signo, já que o assunto era comentado entre os dois compositores, pois Oswaldo
pensava em compor inspirado no zodíaco, a outra era a canção Atalho que
participou do festival seguinte da TV Globo (MPB Shell). O trabalho na Warner
não foi pra frente. Somente em 1985, com a participação no Festival dos
Festivais vencido por Tetê Espíndola, Mongol se aventurou como cantor com a
composição de sua autoria chamada Meu Bons Amigos. Gravou um disco independente
que logo foi distribuído pela Som Livre. Ainda nessa época recebe o registro
profissional de ator e passa a atuar em espetáculos musicais de Antônio Adolfo,
Oswaldo Montenegro, Atilio Riccó, sem nunca abandonar a parceria musical com
seu amigo de infância. Ainda nos anos 80, Mongol passa a escrever seus próprios
roteiros, onde faz muito sucesso em casas noturnas cantando e contando
histórias de humor. Mongol escreve Herrar é Umano e logo a seguir Tudo Bem Eu
Canto Agonia. As histórias e canções que permeavam esses espetáculos
emocionavam e divertiam o público.
Na década de 90 Mongol
experimenta três acontecimentos marcantes: o nascimento de seus três filhos
(Igor, Rana e Ian) com a atriz e produtora cultural Deborah Turturro, com quem
vive há mais de 30 anos. A seguir, com os músicos Tom Capone, Mário Moura,
Mauro Manzolli e André Rafael, Mongol criou a banda Rotnitxe, que é a palavra
extintor ao contrário. Inspirados na audácia de Elimar Santos, lotaram a casa
de espetáculo Canecão para mostrar suas músicas. O Rotnitxe, que era uma
mistura do rock alternativo de Seattle (grunge) com a MPB, acabou sendo
contratado pelo selo MZA Music de Marco Mazzola e distribuído pela Warner
Music. O CD contava com as participações de Martinho da Vila, Armando Marçal
regendo a bateria da Mangueira.
Ainda na década de 90, Mongol criou a banda Akundum, que misturava
reggae com a MPB. O CD vendeu mais de 150 mil cópias pela MZA (distribuído pela
Universal), rendendo-lhe um disco de ouro. O hit Emaconhada puxou o sucesso do
CD. Na sua sequência o Akundum gravou com a participação da banda Inner Circle
na música Qualé. Foram mais de 100 shows pelo Brasil até a entrada do ano 2000.
Mongol passa a estudar roteiro cinematográfico. Participou de
vários cursos e oficinas e em 2013 foi premiado no Primeiro Concurso Nacional
de Roteiros realizado pelo dramaturgo Aguinaldo Silva. No concurso, onde se
inscreveram mais de 400 roteiristas, Mongol fica entre os 5 primeiros com o
roteiro audiovisual-musical Cortiço Brasil.
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